quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O conto do Império Cangaceiro do Sertão.


Assim ouvi dizer de um dos contos do sertão.
Certa vez subiu ao comando de um dos Exércitos Cangaceiros Nativos do Sertão um jovem sonhador príncipe, herdeiro único do trono do Reino do Licuri, sir Pirikas. Era um jovem em seu fim de amadurecimento, portanto, ainda sonhador. Sonhava em ver seu povo amante do sertão unido novamente, e feliz “somente” por estar na sua terra.
Quando assumiu o seu exército já estava na cabeça de unir todas as legiões, formando um grande exército, aquele que devolveria a sua terra a todos os sertanejos, assim realizando o seu maior sonho, formar o grande Império Cangaceiro do Sertão - da Terceira Dinastia dos Barretos.
Durante os primeiros anos de reinado, passou formando o grande exército, ratificando alianças, adquirindo novos aliados, elaborando grandes planos para tomar os grandes Reinos Feudais dos Coronéis de Terra.
Após o quarto ano da sua era, ele começou a avançar o seu império, invadindo e tomando os Feudos da região central da Bahia. Após já ter devolvido a seu povo toda a região setentrional da Bahia, começou a avançar pelo sudeste do Piauí, conseguiu recuperar quase todo sertão piauiense, estava agora programando a sua entrada no, importante e estratégico, estado de Pernambuco. Mas a partir daí veio a grande derrota de sir Pirikas – o sonhador.
Quando estudava a região para invadir o reino de Juazeiro e Petrolina, para assim abrir os portões de Pernambuco, conheceu a sua perdição, o que dilacerou sua alma e seu império, conheceu a princesa Talita da quarta dinastia dos Carvalho. Isso se deu lá para o seu sexto ano de reinado.
Talita era filha do coronel Justiniano de Carvalho II, sendo ele descendente do português conquistador do Pernambuco, Justiniano de Carvalho I, vindo da família real portuguesa. Moça esplendorosa, uma mulata, com pele de chocolate, olhos cor de mel, cabelos negros levemente encaracolados, boca levemente carnuda e bem desenhada, magra de corpo bem desenhado. Porém este era apenas o lado menos belo da princesa. A princesa Talita tinha, sobretudo, um coração fantástico, amava o sertão, admirava a poesia, canção e cultura sertaneja, e assim como nosso herói, era muito sonhadora, encantada com as lendas românticas do sertão.
Ao conhecê-la, sir Pirikas fez com que adiasse ao máximo a grande invasão do Feudo dos Carvalho, o mais importante do estado pernambucano. Saía às escondidas com ela, viviam a cada segundo, ela declamava poemas expondo todo seu amor por ele, tinham conversas prolongadas sobre temas variados, amavam-se, sonhavam, e a cada dia que se passava os dois se amavam mais. Nosso herói considerava a princesa como um anjo enviado pelo seu padrinho Padre Cícero, para que aliviasse as tensões das guerras, e que gerasse o próximo herdeiro do trono.
Porém este atraso foi o suficiente para que o Coronel Justiniano de Carvalho II percebesse a movimentação e convocasse o exército do grande Império Brasileiro Capitalista, que possuía o exército dos mais devastadores da região meridional do mundo.
Acabou que a resposta foi rápida, e o Império Cangaceiro do Sertão foi invadido pelos exércitos opressores. O exército cangaceiro era bem treinado e resistente, porém o exército não resistiu a um grande ataque ao seu imperador sir Pirikas Barreto. O coronel Justiniano mandou matar a alma de sir Pirikas. Mandou que despedaçasse o seu coração, a sua pilastra de sustentação. Mandou que executasse o seu anjo, a sua princesa Talita.
Com o coração espedaçado, sir Pirikas Barreto armou-se e partiu para invadir o grande castelo do Império dos Carvalho. Numa noite fria, ele invadiu a casa grande enquanto a família imperial Carvalho já se deitara, e matou o Coronel Justiniano de Carvalho II. Ao terminar o ato sir pirikas apenas ajoelhou e sentiu as balas dos vassalos atravessarem pouco a pouco seu corpo, e se sentiu cada vez mais perto de seu anjo, até o momento que, enfim, voltou a sentir aquela pele mulata tocar o seu rosto novamente.

sábado, 25 de outubro de 2008

A encantadora de pássaros


Lá para as 8 da manhã de todo dia santo, aparecia ela, velhinha, com um sorriso, com a humildade e a bondade estampada em cada pedaço de sua carga histórica , com seu vasinho de alpiste, que começava a atira-los á rua, e como num passe de mágica, surgiam dezenas de pássaros em sua frente. Então a boa senhora simplesmente encostava-se à parede de sua casa e ficava admirando os pássaros, enaltecendo a sua importância em estar todos os dias a beira de sua casa, cantando e enchendo o seu dia de amor e paz. E como que para retribuir, os pássaros ficavam voando ao seu redor, cantalorando os seus mais belos cantos, fazendo grandes exibições em conjunto e pousavam novamente, deliciando mais um pouco da comida oferecida pela boa senhora.
O ocorrido se dava lá pro final da Rua Macarani, lugar sossegado, de gente humilde que viveu por muitos anos na roça, tendo aquele velho e bom costume sertanejo de contato e agradecimento para a natureza, de respeito mútuo. Se você não entendeu muito bem do que eu estou falando, não se preocupe, é coisa que não se vê mais hoje em dia.
Mas esse detalhe é relevante em nossa história.
Acontece que certo dia, quando já se dava o horário da boa senhora aparecer, os pássaros começaram a sobrevoar sua casinha, fazendo mais um dos seus espetáculos. Porém o que se sucedeu foi que o tempo passou e a velhinha não apareceu aquele dia.
Todos discutiram, e pensaram que ela simplesmente não pode ir naquele dia.
Daí se aconteceu mais dois dias seguidos o ocorrido. Assim uma rolinha, que se dizia o vivido, e entendido da vida fez a seguinte observação: “Ela deve ter se tornado igual aos outros humanos. Ela deve ter esquecido de sua mãe”. E todos como que por submissão aceitaram aquele fato. Somente um, entre os mais de 30 pássaros que ali estavam reunidos, o pardalzinho jovem e sonhador, não aceitou de forma alguma que aquela boa e velha senhora tinha esquecido da essência. Ele sabia que tinha alguma coisa errada naquele fato.
Daí ele chamou imediatamente sua amiguinha pardalzinha. Eram eles companheiros de infância. Sempre pela manhã, iam rodear a casinha verde da esquina, cantalorando cada dia com uma emoção maior do que a do dia anterior. E a boa senhora abria a janela, admirando e agradecendo-os pela canção. Já se passavam três dias também que ela não abria a janela.
Intrigados e determinados a descobrir o que estava a se acontecer, planejaram uma entrada na casa. Ficaram esperando até que a porta se abrisse para entrarem o mais rápido possível. Daí 30 mim a porta se abriu, e como que um raio que despeja toda sua energia de uma vez, foram eles porta adentro. Nem sequer foram percebidos na entrada. Por rodearam muito a casa conheciam bem onde era o quarto da boa senhora, e sem mais delongas se dirigiram para lá.
Chegando lá, tiveram um grande susto. Estava a boa senhora deitada na cama, com os olhos fechados, “deve estar apenas dormindo”, com o braço como que largado de lado e muito coberta. Ficaram a tentar entender a conversa dos humanos, e conseguiram escutar que havia uma doença, que a estava a deixando desta forma. Da forma que eles não gostavam de ver. Não existia naquela boa senhora aquele sorriso encantador, daqueles que envolvem a alma toda num único ato. Não exista aquela expressão de tranqüilidade e paz.
O pequeno pardalzinho disse que tinha escutando do seu avó sobre uma certa folha da mata que curava humanos, e chamou a pardalzinha para ir atrás desta folha.
Percorreram grandes distâncias para conseguir achar um pequeno lugar que ainda existia um pouco da mata nativa que ainda permanecia mantendo viva a folha da cura. Acharam à folha e imediatamente correram para que a velha mastigasse-a.
Fizeram a mesma estratégia, que mais uma vez deu certo. Ao entrar no quarto foram em total silencia jogar a folha na boa da boa senhora. E quando eles já estavam a colocar a folha na boa, abriram-se em sua frente aqueles belos e risonhos olhos que ele tanto admirava nas suas manhãs. Ela como que entendesse o que se estava passando, começou a mastigar a folha, engoliu-a, olhou para os dois jovens pardaizinhos, e os presenteou com o mais belo sorriso já emanado naquelas redondezas.
Saíram eles então a cantalorar, a assobiar e a rodopiar na casa inteira, emanando naquela casa, que até então estava sobrecarregada de uma tristeza assustadora, a mais romântica das alegrias.No dia seguinte lá estavam os dois a cantar para a boa senhora, esperando que ela os presenteasse com seu sorriso e sua presença. Sucederam-se alguns minutos até que a janela se abrisse mais uma vez, para que o ar ficasse novamente cheio da harmonia entre aquele canto, e aquela alma cheia de amor, aquele sorriso inteiro.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O Sertão Médio


Eras assim o sertão em outros tempos.

Grandes feudos de certos Coronéis de Terra, sujeito mandante, que conquistou suas terras através das épicas guerras do sertão. E falando destas, eram compostas por exércitos de vassalos, que deviam obediência ao seu senhor, de um lado, sendo que do outro estavam os incríveis Guerreiros Nativos daquele império, com grandes armas pontiagudas, honra e amor por suas terras. Havia também os grandes Reis do sertão. Eram estes donos de castelos de pedras no meio do horizonte longínquo da paisagem vermelha e assaz esturricada do sertão, chefes dos Exércitos Cangaceiros Nativos do Sertão, com grande quantidade de amor ferido pelos Coronéis que massacravam a sua população camponesa. Os Reis eram aliados dos grandes Guerreiros Nativos, e planejavam grandes invasões nos feudos dos Coronéis de Terra, porém sem o apoio dos Guerreiros que não queriam se rebaixar ao pequeno mundo dos Coronéis, preferiam morrer em sua terra e continuar fazendo parte dela com honra, do que viver sem a honra de ter sido fiel a sua mãe. Desta Forma os grandes Guerreiros Nativos acabaram por perecerem instantaneamente. Os grandes Reis resistiram por mais tempo, realizando várias invasões nas cidades feudais, espalhando o terror e ódio que sentiam dos senhores daquelas terras. Matavam, saqueavam, e salvavam os povos escravizados pelos coronéis.

Porém naquelas terras, naquela era, em meio a todo esse cenário de terror e violência, é que aconteciam as grandes e verdadeiras histórias, cheias de mitos, romances, aventura e cultura, de nossos antepassados.